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MONEYTIMES: Casas Bahia (VIIA3): Risco de recuperação judicial existe? Veja opinião de especialistas

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Casas Bahia (VIIA3), ex Via, vive momento de incerteza nos mercados em meio a uma oferta de ações frustrante (a empresa levantou R$ 622 milhões ante os R$ 980 milhões esperados) e o perigo de antecipação de CRIs (Certificado de Recebíveis Imobiliários), que queimaria R$ 400 milhões pelos cálculos de analistas.

A ação derreteu 38% em uma semana, com o papel saindo de R$ 1,20 para R$ 0,73.

As dúvidas em torno da empresa, que se arrastam desde, pelo menos, 2014, ganham ainda mais projeções em meio ao cenário difícil do varejo. Outras marcas, como Marisa (AMAR3), Tok&Stok, e Mobly (MBLY3) passam por dificuldades, além da Americanas (AMER3), que revelou rombo contábil de R$ 20 bilhões no início deste ano.

No segundo trimestre, a companhia reportou prejuízo líquido de R$ 492 milhões, o dobro dos R$ 260 milhões esperados pelo consenso da Bloomberg. Diante dos riscos, investidores se perguntam qual o futuro da marca.

De acordo com especialistas em recuperação judicial e analistas que conversaram com o Money Times, a Casas Bahia ganhou um respiro, mas precisa mostrar resultado quanto antes. Mas já há uma certeza nesse processo: a empresa sairá menor do que entrou.

Em seu plano de reestruturação, anunciado com o balanço, a companhia incluiu dois pilares para virar o jogo: alavancas operacionais e otimização da estrutura de capital.

As iniciativas incluem ainda redução potencial de 50 a 100 lojas em 2023, revisão de quadro de lojas, renegociação de aluguel e revisão de sortimento ideal e sublocação de espaço ocioso.

Mas isso é suficiente? O risco da Casas Bahia entrar em recuperação judicial existe? Veja a respostas para essas e outras perguntas a seguir.

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Recuperação judicial; risco existe?

A recuperação judicial explodiu em 2023. De acordo com o Serasa, os casos cresceram mais de 50% em 2023, comparado ao primeiro semestre de 2022.

Seja por má gestão, seja por dívidas que se tornaram impagáveis devido à disparada da Selic, muitas empresas recorreram ao instrumento para se livrar (ou adiar) a falência.

Na visão de Max Mustrangi, sócio fundador da Excellance, que atua na reestruturação de empresas, a Casas Bahia possui dívidas “monstruosas” e uma queima de caixa forte.

“Vamos lembrar que em 2020 a Casas Bahia fez uma emissão de ações e levantou R$ 4 bilhões que viraram pó, consumiram tudo, e já estão buscando dívida de novo no mercado. Ela vem tendo prejuízos recorrentes e crescentes há muitos anos . Ela não só dá mais prejuízo como piora mais”, destaca.

Para ele, o risco de uma RJ é elevado. “Quem manda em uma empresa é o caixa, o caixa é rei. A empresa morre por caixa. As últimas fontes da Casas Bahia estão se esgotando. É uma questão de tempo até ela ficar sem caixa e sem fontes de financiamento, sem capital de giro e ser obrigado a pedir uma recuperação judicial”, coloca.

Douglas Duek, CEO da Quist Investimento e especialista em reestruturação e recuperação judicial de empresas, diz que o risco da ex-Via entrar em recuperação judicial agora é menor. “Mas não excluiu totalmente essa possibilidade, uma vez que a dívida é alta”, discorre.

Ele recorda ainda os problemas de ratings. Na semana passada, a agência de classificação de risco S&P cortou a nota da vigésima emissão de CRIs da Opea Securitizadora, que são lastreados na oitava emissão de debêntures das Casas Bahia. A nota foi revisada de “brAA-” para “brA-“.

A S&P disse que revisão ocorreu em virtude “de nossa opinião de crédito sobre os ativos que lastreiam a operação, cuja devedora é a Via”. Mustrangi diz que se caso a assembleia, marcada para o dia 03 de outubro, definir pela antecipação da dívida, então a empresa teria “asfixia mortal”.

Fontes próximas da varejista, porém, não veem a antecipação da dívida se concretizando – seria necessário a aprovação em assembleia com titulares dos CRIs. A empresa está em período de silêncio e não comenta o assunto.

Já Lucas Lima, analista da VG Reserch, diz que a recuperação judicial, por hora, é improvável. Ele argumenta que a Casas Bahia renegociou os vencimentos de suas dívidas, ou seja, a maior parte que estava no curto prazo foi para o longo prazo.

“Cerca de 34% estão no curto prazo e 66% no longo prazo. O próximo vencimento relevante de dívida da companhia será no segundo trimestre de 2024 (R$ 932 milhões) e no terceiro trimestre de 2024 (R$ 622 milhões). Atualmente, a empresa possui uma caixa disponível de R$ 870 milhões, sem considerar antecipação de contas a receber e cartões de crédito (aqui temos mais R$1,9 bilhão)”, argumenta.

Apesar disso, ele observa que a Casas Bahia sofre com o nível de despesas financeiras, dado a alavancagem elevada. Hoje, o custo médio da dívida está girando em torno de CDI +2,7%, “o que é bastante elevado e vem deteriorando o resultado operacional da empresa”.

“O cenário é preocupante visto que a varejista está correndo contra o tempo. O fluxo de caixa atual é bastante demandado por um resultado líquido negativo, pelo capital de giro e demandas judiciais trabalhistas. A esperança da empresa atualmente está totalmente ligada no plano de reestruturação que foi anunciado e na recuperação da demanda com a redução da taxa de juros”, completa.

Plano de reestruturação é suficiente?

Para Lima, sim. O analista nota que um plano de reestruturação bem executado já elimina a possibilidade de RJ.  “Na nossa visão, o plano possui alavancas claras e relativamente “simples”, além de não depender do cenário macroeconômico para ser implementado”, discorre.

Mas como dito, tudo dependerá da execução da companhia. O analista vê um quarto trimestre melhor, com a Black Friday reduzindo seu estoque de produtos de cauda, que não estavam gerando boa rentabilidade para a companhia.

“O segundo semestre será importante para limpar esse estoque e buscar uma margem bruta melhor em 2024”, completa.

Caroline Sanchez, analista da Levante Corp, vai pelo mesmo caminho ao afirmar que o plano possui ideias boas e interessantes, que se aplicado, pode impactar de maneira positiva o negócio da Via a longo prazo. Porém, lembra que a ex-Via já anunciou outros planos que ficaram só no papel.

“Não tem como descartar a possibilidade de que, futuramente, a varejista precise lançar mão de uma recuperação judicial. Esses temores só serão afastados quando as mudanças, de fato, começarem aparecerem nos resultados da companhia. O follow-on (oferta de ações) dá um fôlego de 12 meses, embora isso não resolva o problema em si”, completa.

Mustrangi lembra que a Casas Bahia está há 10 anos em turnaround. “Já anunciaram três ou quatro turnaround. Ou eles não conseguem, ou não têm a menor ideia do que tem que ser feito”, completa.

Procurado pelo Money Times, a Casas Bahia não se manifestou até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para seu posicionamento.

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